"Penetras surdamente no reino das palavras."
Carlos Drummond de Andrade.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Você.

E é só te fitar para logo chacoalhar a cabeça num gesto de reprovação. Talvez seja porque eu quero, mais do que possa querer qualquer coisa, tirar esse seu rosto claro, feito imagem retratada a pincel, da minha consciência. Inconsciente, eu vivo a procurar você onde eu não posso achar, onde ninguém pode achar...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

E é assim, um anjo para mim.

Bom dia, filha!
Deixei sua marmita pronta na geladeira, na porta tem suco de maracujá.
Comprei seu sucrilhos ontem, vê se toma café antes de sair, viu?
Não se esqueça das chaves da porta da sala, porque quando você chegar, não estarei em casa. Fique com o celular por perto que depois do almoço te ligo.
Seu guarda-chuva tá na bolsa? Parece que vai chover...
Leve blusa que mais tarde sempre esfria e você pode pegar um resfriado.
Boa sorte na prova de Geometria, se a dor de cabeça apertar, tome 40 gotas daquele remédio de caixa azul que te mostrei ontem. Nada de comprimidos porque você é alérgica.
Bom trabalho e, não se esqueça, eu te amo.
Beijos,
Mamãe.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Rabisco.

Assim
Sim
Floresçam
Desapareçam
Me enlouqueçam

Partam
Matam
Desvarios
A ver navios
Permaneçam
Ali
Aqui
Noutro lugar
Sem respirar
Sem êxito
Fracasso
Pedaço
Meu laço

Cego
Desapego
O amor
Cor
Solidão
Não
Embora
Sem hora
Sem nada
A dizer
Respiro
Firo
Parto
Pedaço
Permanece
Sim
Assim
Em mim

Permanência.

    Acontece que sou insegura, não confio em palavras vãs nem em meu próprio pulso, este que deveria ser firme. A perseverança passa despercebida ante meus olhos. Acontece que sou fraca, não creio poder levantar algo tenebroso de grande com a força de minhas próprias mãos calejadas do trabalho ao qual sou exposto todos os dias. Noite e dia.
    Acontece que sou frágil e me machuco com um reles espinho minúsculo de uma pobre flor recolhida de um imenso jardim. E choro e rio de desespero. E canto de angústia e grito de momentânea felicidade.
    Momentâneo é viver. Frágil é o vidro dilacerado em cacos pequeninos ao chão.
    Passageiro é o orvalho que brota quando a lua nasce por detrás da aurora, no meio-céu. Insegura é a mãe que segura em seus braços a criança acabada de nascer. Fraca é a água cristalina correndo silenciosamente no fundo de um riacho frio, as negras pedras compondo o caminho e um tilintar suave, adocicado.
    Acontece que linda és, vida. Triste sou.